segunda-feira

1.1 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO


A Arte Contemporânea está cada vez mais presente no cenário mundial, nos grandes centros já é uma realidade marcante, logo começa a tomar espaço nas demais regiões. Ao mesmo tempo em que aumenta sua importância, cresce também o próprio espaço que a arte tem hoje para suas manifestações, seja em espaços culturais adequados, espaços urbanos ou nas escolas da rede de ensino. No Rio Grande do Sul podemos tomar como exemplo a Bienal do Mercosul que este ano recebeu milhares de alunos das redes públicas e privadas aproximando-os, integrando-os e permitindo uma interação, que se pode considerar, direta com o que há de mais significativo da arte contemporânea.
Conforme os PCN’s, ( 1997,p.61):

O mundo atual caracteriza-se por uma utilização da visualidade em quantidades inigualáveis na história, criando um universo de exposição múltipla para os seres humanos, o que gera a necessidade de uma educação para saber perceber e distinguir sentimentos, sensações, idéias e qualidades. Por isso o estudo das visualidades pode ser integrado nos projetos educacionais . Tal aprendizagem pode favorecer compreensões mais amplas para que o aluno desenvolva sua sensibilidade, afetividade e seus conceitos e se posicione criticamente.

Ao discutir a arte e seu ensino nas escolas, abordamos um assunto consideravelmente complexo, visto que a disciplina escolar arte apresentou distintas posições ao longo da história da educação. Por vezes foi considerada mera atividade prática, manualidade, habilidades motoras; por vezes, como momento da liberação criativa para o aluno, ambas com fins subalternos as das outras disciplinas, tidas como mais importantes.
A Arte Contemporânea, a medida que é trabalhada na escola, propicia situações diversas de ensino, provoca o olhar do aluno, tem a capacidade de gerar discussões e confronto de idéias que só vêm a contribuir para sua cultura e senso estético, e ainda, é uma realidade mais próxima no tempo e no espaço para a grande maioria dos alunos, do que qualquer período histórico da arte, e que, portanto, não pode ser desperdiçada.
Porém, não podemos deixar de considerar que o próprio conceito de Arte Contemporânea é algo que ainda está sendo construído, deve-se admitir que, para compreender a arte contemporânea, se deveria conhecer os objetos da arte que a legitimam como tal, prezando o sujeito que se proponha fruí-la.
Os PCN’s, ( 1997, p. 40) sustentam que:

A emoção que provoca o impacto no apreciador faz ressoar, dentro dele, o movimento que desencadeia novas combinações significativas entre as suas imagens internas em contato com as imagens da obra de arte. Mas a obra de arte não é resultante apenas da sensibilidade do artista, assim como a emoção estética do espectador não lhe vem unicamente do sentimento que a obra suscita nele. Na produção e apreciação da arte estão presentes habilidades de relacionar e solucionar questões propostas pela organização dos elementos que compõem as formas artísticas: conhecer arte envolve o exercício conjunto do pensamento, da intuição, da sensibilidade e da imaginação.

O ensino de arte, portanto, é um processo de articulação da experiência, de significação da relação do indivíduo com o meio e consigo mesmo. Nesse processo de articulação e ordenação, o potencial criador dialoga com as experiências acumuladas pelo sujeito da ação, relacionando o antigo com o novo, através de uma transformação que respeita a especificidade do sujeito e o objeto a ser conhecido, dando-se aí uma aprendizagem por experiência significativa.
É natural que a arte-educação busque através da arte contemporânea, despertar o aluno para a complexidade do mundo e sua inevitável relação com este mundo que poderá ser, mais, ou, menos proveitoso. Nesse sentido, os espaços urbanos são instrumentos consideravelmente significativos.
Fusari e Ferraz (2001, p.94) nos apontam que:

A sociedade contemporânea, com suas pesquisas e descobertas científicas, tecnológicas, traz inúmeras oportunidades no campo das imagens. Estas, enriquecidas com os novos meios, vêm complementar as experiências do desenho, da pintura, da gravura, escultura, arquitetura, e passam a ser produzidas também através das tecnologias eletrônicas, digitais etc. Em vista disso, convivemos hoje com outras linguagens visuais, audiovisuais, que têm especificidades próprias mas integram o universo da comunicação e das artes.

O cotidiano contemporâneo vem sendo invadido cada vez mais por imagens, sons, tão diversas quanto banais, que vem nos exigindo significantemente a capacidade de extrair do caos o necessário contraste encantador que significa e modela o estar junto no mundo. Esta desordem visual das cidades que satura os ambientes exige de nós arte-educadores a consciência e habilidade para transformar e extrair destes excessos leituras e experiências significativas utilizando-os como recurso e meio de linguagem contribuindo para estratégias educacionais voltadas para uma formação que considere a humanização das pessoas capaz então de enfrentar o desencanto e a anestesia promovidos por uma visão estreita do mundo .
A Arte, num país como o nosso, precisa ter cada vez mais um lugar de grande destaque na escola privilegiando, ainda, a riqueza e a sofisticação de nossas manifestações culturais especialmente nas expressões do nosso modo-de-ser-no-mundo, expressos em nossas festas, música, dança, teatro e produtos de mídia.
O ensino da arte apresenta-se como um processo de articulação da experiência, de significação da relação do individuo com o meio e consigo mesmo, além de desenvolver a imaginação criadora permite conceber novas situações, idéias, bem como articular os sentimentos em imagens, textos, música e movimento.
Fusari e Ferraz ( 2001, p. 23) afirmam que:

[...]a arte é representação do mundo cultural com significado, imaginação; é interpretação, é conhecimento do mundo; é, também expressão dos sentimentos, da energia interna, da efusão que se expressa, que se manifesta, que se simboliza. A arte é movimento na dialética da relação homem-mundo.

A proposta é pensar a arte contemporânea a partir do que ela nos opera, ou seja, pensando, sentindo, fazendo, simulando, percebendo, vendo, o que o artista nos apresenta inscrito na obra, e o que está nela que nos faz achar o feio, o desajeito, a curiosidade, a boniteza, o nojento, a afetividade, a inimizade, bem como alguma coisa que está nela que não conseguimos perceber. Entretanto, reconhecer que sempre há na obra algo que nos toca. A arte contemporânea propõe fazer, pensar, a partir do que/como o artista a elabora de qualquer matéria do mundo, quebrando o mito de que para fruí-la é necessário iniciar-se no mundo da arte. Não podemos, porém perder de vista as concepções de mundo e de sociedade que queremos vivenciar e construir com os alunos.
A educação escolar e o meio social exercem ação recíproca e permanente um sobre o outro. Para os educadores mais otimistas a educação escolar é pensada de forma idealística, considerando-a muito influente e capaz de mudar, por si só, as práticas sociais. Em oposição a estes, existe um outro grupo de professores que acredita que é a sociedade, com suas práticas, que determina totalmente a educação escolar a qual por sua vez é considerada reprodutora desta sociedade, sendo incapaz de mudá-la.
A dimensão educativa da arte enquanto experiência formativa, sob a perspectiva da condição criadora e inventiva do ser humano capaz é de explicitar a vida e suas relações sociais. Portanto é necessário um comprometimento trabalhoso, não se pode negar, processo de aprendizagem empenhado com uma reflexão interrogativa e investigativa do acontecimento artístico na cultura contemporânea , ou seja, capaz de integrar, reintegrar sensações e sentidos a medida que interage com o mundo que os rodeia repensando-o, transformando-o ou simplesmente compreendendo a complexidade do existir humano.
A contemporaneidade é marcada por uma considerável rapidez de transformações, sendo assim, é normal que a arte na educação escolar se depare com um significativo desencantamento do mundo, sensações de insegurança, incertezas de um mundo que por vezes parece ter virado pedra, sendo assim cabe a esta proporcionar este reencantamento permitindo ainda aprender como enfrentar os problemas da civilização, da cultura, do cotidiano, para transformar peso em leveza.
Pillar (1999, p.132):

O sujeito enfrenta, hoje, no cotidiano, uma verdadeira epopéia do olho e da pulsão de ter que ler com o olhar.[...] A educação do olhar torna-se então um imperativo, uma forma de humanização e de cultivo, o que representa um dispositivo para a cidadania. Essa educação demanda compatibilizar imagens do cotidiano a estudos estéticos sobre arte e cultura.

Uma possível abordagem poderá ser pautada na cotidianidade, haja vista que a arte, fundamentalmente contemporânea, aproxima-se da vida. A relação entre a fruição e os saberes da arte não devem ser impositivos, mas dialogantes, para que o observador leigo possa estabelecer vínculos por meio de impensados e imprevisíveis repertórios. Se o propósito da arte fosse discorrer somente sobre a arte, não seria necessário abrir as portas dos museus, os portões das bienais, etc. Enfim, falar de arte como se fala da vida.
O professor necessita conhecer as tendências que influenciaram o ensino e a aprendizagem da arte ao longo da história, para poder entender a situação da arte-educação no contexto atual e refletir sobre sua atuação pedagógica com o objetivo de otimizá-la.
A arte é, talvez, a última possibilidade deste mundo tão opaco. E está rigorosamente nas mãos de quem trabalha com educação fazer com que os jovens e crianças percebam a infinidade de coisas que compõem o mundo. Entendê-lo como sendo um elenco de imagens gloriosas que a nossa expressão produziu é pouco. O mundo é mais do que isso. Temos que conjugar esse esforço com uma visita àquilo que é próximo, deixando aflorar elementos como a evocação, a imaginação, a nostalgia, a memória. Assim, quando pedirmos para o aluno que ele olhe para o mundo, para que escolha um fragmento daquilo que interessa de seu ambiente e eleja, ele vai eleger alguma coisa. Ele vai se escolher. Ele vai se reencontrar no mundo.

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